Todo trabalho de comunicação, ao ser elaborado, deve-se antes de mais nada, entender como funciona a fixação da crença para o público ao qual se destina. Pois é a forma como esse público crê, que irá definir como ele irá absorver ou não a informação.
Charles S. Peirce, o fundador do pragmatismo e da ciência dos signos que é a semiótica, defende quatro formas de fixação da crença. Tive contato com a sua teoria quando elaborei o projeto de conclusão de curso e me identifiquei muito com a sua forma de definir as crenças e até hoje as comparo com toda e qualquer situação que envolva o fator “crer”.
Quando falo em crer, não significa propriamente uma religião e sim qualquer crença (crer que uma música é a melhor, que uma roupa é a mais bonita, que uma cor é a mais atraente), tudo isso são crenças. Algumas delas cremos piamente, outras nem tanto, além de toda a pessoa ter a sua forma particular de crer em algo.
Então, quando apresentamos um produto, uma marca, devemos sugerir que a pessoa creia que aquele produto é o melhor! Como fazer isso? Simples, basta conhecer a teoria “A fixação da crença” de Peirce.
A teoria é bem complexa, funciona com a dúvida que leva a crer em algo, resumidamente.
“A dúvida é um estado de insatisfação e inquietude do qual lutamos para nos desvencilhar e passar para um estado de crença, ao passo que este é um estado calmo e satisfatório que não desejamos evitar ou transformar numa crença em outra coisa. Pelo contrário, nós agarramo-nos tenazmente não só ao acreditar, mas a acreditar precisamente naquilo em que acreditamos. Tanto a dúvida como a crença têm efeitos positivos sobre nós, ainda que bem distintos. A crença não nos faz agir prontamente, mas predispõe-nos a agir de uma certa maneira quando surge a ocasião. A dúvida é desprovida desse efeito activo, mas estimula-nos a investigar até que ela própria seja aniquilada. (...) A irritação da dúvida provoca uma luta para alcançar um estado de crença.” Charles Peirce.
A crença tem várias formas de manifestar-se nas pessoas, sendo elas:
A crença por autoridade: aqui o indivíduo é comandado, levado a crer em algo por meio do terror, da inquisição. Foi muito utilizada e ainda é, religiosamente e politicamente. É uma forma forte de impor uma crença, mas com o tempo a tendência é desgastar-se.
A crença por tenacidade: o indivíduo crê tenazmente em algo, não importa que lhe apresentem outras opções para crer, ele não largará a sua crença, pois é sua tábua de salvação, ele teme ficar sem crença e naufragar. Ele evita dúvidas. Porém este método é frágil, pois se com um tempo, se o homem notar que outros pensam de forma diferente, isso pode abalar sua confiança na própria crença e levá-lo a buscar outra.
A crença a priori: aqui o indivíduo crê em algo por um tempo, mas assim que lhe apresentarem outras opções de crenças, ele trocará instantaneamente, e isso ocorrerá sempre que lhe apresentarem novas crenças. Ele crê no momento em algo, mas o troca sem pestanejar. (quantas pessoas você conhece assim?).
A crença científica: aqui o indivíduo antes de crer em algo, investiga, procura entender, faz perguntas, para então crer ou não. Esta crença se mantém, se sustenta, pois é gerada pelo próprio indivíduo (é a melhor forma de crença, porém a mais rara ultimamente).
Claro que procurei colocar de uma forma muito simplificada apenas para abordar o tema e levar, você leitor, a refletir sobre como as crenças se apresentam a você e como você as absorve e, para quem é da área, uma boa sugestão de como trabalhar.